O Brasil é um país conhecido pela abundância de seus recursos naturais. Entretanto, está longe de entendê-los totalmente. O país é hoje o maior produtor de minério do mundo, e mesmo assim ainda existem jazidas de metais intocadas e mal utilizadas. Essa falta de informações sobre a sua formação geológica também está relacionada à incidência de enchentes e deslizamentos, que nos últimos anos vitimaram centenas de pessoas.
"Há pouca integração entre universidade, empresas e governo para melhorar o entendimento de nosso país", afirma Onildo Marini, secretário-executivo da Agência para o Desenvolvimento da Indústria Mineral Brasileira (ADIMB).
Questões como essas inquietaram a comunidade de geocientistas no seminário "Geociências: Principais tecnologias, a fronteira do conhecimento, projetos na área da indústria mineral, Pré-sal e outras demandas da sociedade", que aconteceu semana passada na UnB. Cerca de 70 pesquisadores, estudantes e representantes do governo, discutiram os rumos de um setor altamente aquecido no Brasil. "Essa multiplicidade de conhecimentos dá novos estímulos para nosso trabalho", disse Detlef Walde, diretor do Instituto de Geociências da UnB.
Um dos problemas apresentados no seminário foi a falta de estímulos e dinheiro para a mineração, que acaba sendo deixado de lado em detrimento do setor petrolífero. Onido Marini afirmou que, apesar do tamanho e possibilidades de descobertas, o País investe pouco, se comparada a vizinhos como Chile, Peru e a países com grande território como Canadá e Austrália. "Não conhecemos nosso minérios e nem nossos rejeitos", disse Marini.
Onildo explicou que a academia brasileira evoluiu, e é uma das que mais publicam estudos em revistas científicas importantes, mas falta integração com outros setores. Para o professor Detlef Walde, há muitas barreiras. "Faltam universidades técnicas e estímulos para essas parcerias". O aluno do 4º semestre de Geologia, Gustavo Rosa, quer estudar minérios no futuro e concordou. "Acho importante que haja uma parceria maior entre esses entes", acredita.
Outra área deficiente em pesquisas é a de estudos sobre prevenção de tragédias naturais. Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia, disse que é o Brasil ainda engatinha quando se fala em prevenção de tragédias como o deslizamento da região serrana do Rio de Janeiro no começo do ano, que matou quase 900 pessoas.
"Estudos do Ministério do Meio Ambiente mostraram que 90% dos deslizamentos que aconteceram no Rio foram em áreas que deveriam estar protegidas, não habitadas". Previsto para ser lançado em novembro desse ano, o Sistema de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais já está sendo usado provisoriamente no Nordeste, onde há uma concentração maior de chuvas no inverno.
Segundo Nobre, o MCT irá fazer parcerias com universidades e criar editais de pesquisa e projetos para estimular o mapeamento geológico necessário ao Sistema. "Queremos transformar o Brasil em uma liderança tecnológica do setor até 2030", diz Cláudio Scliar, representante do Ministério das Minas e Energia.
Nos Estados Unidos, o Serviço Geológico Americano (USGS) faz o mapeamento do solo com imagens tridimensionais. O pesquisador David Smith trabalha no USGS e veio à UnB mostrar o uso integrado de diversos equipamentos de medição para, por exemplo, entender doenças causadas por minérios, ajudar na reconstrução do Afeganistão e procurar água em Marte. A apresentação das possibilidades do aparelho AVIRIS (Airborne Visible/Infrared Imaging Spectrometer, ou Espectrômetro Aéreo de Imagem Infravermelha) causou inveja nos pesquisadores. "É uma tecnologia fantástica", disse Célia Ghedini Ralha, diretora de Desenvolvimento Institucional e Inovação da UnB. Ela espera uma parceria maior entre a universidade e o USGS.
Fonte: Univesp
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